domingo, 1 de fevereiro de 2015

- Cotidianidades -



Toda a hora meus amigos e principalmente meus familiares me perguntam o que é que eu gostei mais lá do México. Acho sempre muito difícil responder, porque o conjunto da obra superou todas as minhas expectativas, então geralmente eu digo as coisas que interessam às pessoas 'normais': custo de vida menor, pessoas mais "humanas", transporte público mil vezes melhor, essas coisas.

Quando eu estava lá, meu migo mexicano preferido sempre me perguntava se eu não estranhava estar num país diferente, ouvindo um idioma diferente, com o biotipo das pessoas diferente e eu sempre respondia que não, sempre brincava que até quando tomava chuva na rua, podia dançar Singing In The Rain porque era feliz até passando frio. Posso ter sentido estranho no começo, mas depois de me acostumar tive pela primeira vez a sensação de estar em casa, de pertencer a algum lugar. E esse sentimento não surgiu do nada, senão das pequenas coisas cotidianas que depois de prestar atenção eu tive consciência.

Não é segredo pra ninguém que eu odeio Botucatu, a cidade onde eu moro no Brasil. Sou de São Paulo, amo São Paulo mas tive que ir pro interior pra estudar, afinal tudo tem seu preço. A verdade é que no começo eu até gostava de Btu, mas com o tempo, com as vezes em que fiquei das 6 às 9 da noite na faculdade esperando um onibus, as ladeiras gigantes que tenho que subir e descer pra ir pro centro da cidade, as vezes em que tenho que entrar em carros de estranhos pra poder chegar em casa (não sem antes fazer uma caminhada de meia hora do ponto de carona até meu lar) porque o sistema de caronas lá é mais eficiente que o transporte público, ou a simples falta do que fazer naquela cidade morta, tudo isso fez com que eu me sentisse cada vez mais desanimada e triste de morar lá. Não me identifico, não me sinto à vontade, não gosto.

Então fui ao México decidida a viver uma nova vida, mesmo que brevemente, a ser feliz onde eu sempre tive a certeza de que seria. De um tempo pra cá, ou para antes de eu viajar, meu coração palpitava cada vez que eu pensava nesse país, não sei como, nem de onde, mas dentro de mim reinava a certeza de que minha felicidade estava lá. E não foi diferente disso.

Cheguei lá e estranhei tudo. Apesar de ter sempre a companhia de um fiel amigo, estava praticamente sozinha, em um lugar desconhecido e sem a certeza de que as pessoas me entenderiam em alguma emergência que eu precisasse de ajuda.

Com o passar dos dias, com os outros intercambistas também perdidos, com minhas roomies (que eu só entendia 50% do que elas falavam por causa do sotaque colombiano hahaaha) fui ganhando confiança e em pouco tempo já dominava algumas linhas de metrô e metrobus.
Então comecei a prestar atenção... entrava no metrobus que me deixava na facul e sempre a tvzinha estava passando algum clipe, e sempre de música que eu gosto... um dia passaram amor a la mexicana, no outro te tuve y te perdí do Mane de la Parra, no outro Sino a Ti:


Eu passava pela velhinha da esquina que vende doces e ela me cumprimentava. Os seguranças da faculdade sorriam e davam boa tarde. Os moços do almacén (onde a gente pegava a vidraria pra usar no lab) os tiozinhos eram todos falantes e me perguntavam do Brasil.
Estar no Six Flags na época de Natal e que nos auto-falantes coloquem Campana Sobre Campana cantada pelo RBD, que apareça na tv o tempo todo algo sobre algum deles. Que nas rádios toquem músicas que eu gosto de verdade. Não sei se tudo isso parece superficial e, por exemplo, para minha mãe é tudo bobagem, mas esse era o tipo de coisa que me fazia feliz lá. Estar entediada em casa, ir até o metrô que fica na esquina e em uns 20 minutos estar em frente ao Ángel de la Independencia. Ou ao Palacio de Bellas Artes. Ou sentada no Zócalo fazendo absolutamente nada (ou vendo algum ritual azteca mucho loco sendo feito lá no meio). Esse tipo de coisa me fazia sentir viva, feliz, completa, "finalmente em casa", em um lugar onde mais ou menos eu era compreendida, pelo menos quanto aos meus gostos. Onde eu não estava sozinha e podia falar com qualquer um sobre como as músicas de Jesse & Joy são boas. Onde não preciso procurar streaming na Internet pra assistir ao Grammy Latino. Onde posso ir ao cinema ver o filme de atores que eu admiro.
E olha que muitas, muitas vezes eu dei esses rolês sozinha. Ia estudar no Bosque de Chapultepec acompanhada só de esquilos, ia comer churros em Coyoacán...

Bosque de Chapultepec = amor

Selfie no metrobus pode sim!

Utilizar meme da Carmelita Salinas e ser entendida pode também!

Em 20 anos no Brasil, fosse em São Paulo ou Botucatu, eu nunca na vida havia experimentado esse tipo de sensação. Nunca jamais em SP me aventurei assim, muito pela superproteção da minha mãe, mas também muito pelo comodismo de ir sempre nos mesmos lugares. Ou de não me arriscar a ir em algum lugar mais longe porque pra isso preciso tomar uns 2 ônibus e um metrô. Ou porque ir pra algum outro lugar diferente é mais caro e não cabe no orçamento. Sei que muito dessa sensação de 'felicidade' vem do fato de eu estar de intercâmbio, sem família, sozinha e "adulta", mas sei também que se fosse em outro país, talvez não tivesse a mesma magia...

Não sei se consigo me explicar como eu gostaria, mas sei que a resposta pra "o que você gostou mais no México?" é muito complexa e quase ninguém entenderia, mas disso os loucos sabem, só os loucos sabem...

FICA A DICA: Aos domingos, desde de manhã cedinho até às 14 hrs o Paseo de la Reforma fica com a circulação de carros interrompida, especialmente para o trânsito de bicicletas. É um projeto do governo do DF para incentivar o exercício físico de uma das populações mais obesas do mundo. Se você não tem uma bicicleta, não tem problema: o mesmo governo empresta bicicletas por duas horas pra você poder aproveitar o domingo e se exercitar sem nenhum custo e apresentando só um documento com foto. Completamente grátis e além disso, não só a Reforma fica fechada, mas também o trajeto que te deixa em Bellas Artes e no Zócalo. Você pode fazer um tour pelos principais postais da cidade de bike e de graça, além de ver a cena linda de uma avenida infestada de bicicletas de todos os tamanhos e tipos, crianças, famílias, esportistas, cachorros, skates, patins e inclusive pode chegar pras aulas de ginástica aeróbica gratuitas por ali também. Vale muito a pena, até para pessoas como eu que não sabia andar de bike direito (e depois fiquei batendo ponto de domingo lá) e pessoas pequenas (não sei o tamanho do aro, mas as bikes são tamanho único e grande, o que me machucou muitas vezes uheue)





3 comentários:

  1. Lagrimas e mais lagrimas.... Vc não sabe como faz bem ler sobre o Mexico! Tenho um amor pelos paises da america latina que eu nao sei de onde vem. Eu tbm não gosto de onde vivo e compreendo o que vc sente .Obrigada pela nostalgia gostosa do seu texto senti saudades sem ter estado la ♥ Nada e por acaso nessa vida no dia que vc publicou foi meu aniversario!! hahsahsha

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    1. Poxa Bruna, mesmo que atrasado, parabéns!!! Eu conheço bem essa sensação de sentir saudade de algo que nunca se teve, mas como cê mesma disse, nada é por acaso, e eu tenho certeza de que você vai vivenciar tudo isso e muito mais!
      (No dia do meu aniversário esse ano, passou na band O Mundo Segundo Os Brasileiros no México hahaha esse destino é muito zuero)

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